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Após pesquisa revelar desequilíbrio emocional, especialistas da região descrevem rotinas exaustivas


15 de abril de 2021 por
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Uma pesquisa inédita realizada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) trouxe à tona um dado preocupante: quase 60% dos médicos brasileiros relatam problemas psicológicos e familiares neste momento de enfrentamento à COVID-19. A principal consequência é o risco na diminuição do número de médicos em atuação. A Rede Marazul consultou profissionais que atuam no Litoral Norte de Santa Catarina para falar sobre o tema.

Dentre os participantes da pesquisa, 22,9% relataram aumento no nível de estresse, 14,6% destacaram o sentimento de medo e pânico, 14,5% afirmaram ter reduzido o tempo dedicado à família, refeições e lazer e 7,6% destacaram a diminuição do tempo e da qualidade do sono. A pesquisa foi realizada com 1.600 médicos cadastrados nos conselhos regionais (CRMs) e divulgada na última semana.

Atuando na linha de frente da Covid-19 em Penha, o Dr. Fábio Traghetta comentou que os dados da pesquisa traduzem o sentimento vivenciado nas unidades de atendimento e as angústias que acompanham os profissionais na volta para casa. “Este momento está sendo desafiador. O estresse de lidar com o COVID-19, a incapacidade de salvar pacientes e fluxo de atendimento absurdamente alto transforma a nossa vida num campo de batalha, que nos deixa extremamente cansados. Estamos com carga de trabalho que chegam a quase 100 horas por semana e, não tem jeito, levamos isso para a nossa casa”, ressaltou.

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Dr. Fábio também aponta sobre a potencial falta de profissionais da área. “Os profissionais de saúde, como um todo, estão cansados, estressados fisicamente e mentalmente. A gente sente isso todos os dias. Observo colegas adoecendo por COVID-19, buscando apoio psicológico para reestabelecer a saúde mental e desistindo da profissão. Neste momento apenas o que nos move é o paciente e a possibilidade de fazermos a diferença na vida dele”, acrescentou.

O médico Dr. Paulo Coral, que atua em Joinville, concorda com a avaliação. Segundo ele, existem cada vez menos médicos nas unidades. ‘Infelizmente esta já é uma realidade. É um ambiente de muita pressão e sobrecarga para todos os profissionais”, lamentou. Dr. Paulo complementou que este é um sofrimento de todos que atuam na linha de frente. “Todos os profissionais de saúde também sofrem, desde recepcionista, aos técnicos, enfermeiros, motoristas, médicos. Todos envolvidos estão juntos neste risco eminente”.

O Clínico Geral, Dr. Virlei Primo Junior, do Centro de Triagem do Coronavírus em Balneário Piçarras, confirma a tese e frisa que “a pandemia mudou a rotina das pessoas no mundo todo. Para nós profissionais da saúde que estamos na linha de frente o impacto é gigantesco. Observo que cada vez mais, a mão de obra de profissionais da saúde vem sendo consumida pela covid-19, seja por perda para o vírus, ou pela dificuldade de encontrar o profissional no mercado, uma porque não tem e, outra, que muitos já estão cansados e não tem mais força mental para enfrentar tal situação”, descreveu.

Dr. Virlei concorda com os resultados demonstrados pela pesquisa da CFM. Ao ser questionado sobre os problemas causados pela pandemia aos profissionais de saúde, o Clínico Geral pontua “morte de forma prematura por COVID-19, transtornos emocionais, medo, pânico, estresse físico e insônia são as principais queixas de profissionais de linha de frente neste momento”.

A pesquisa identificou, por outro lado, que a pandemia do novo coronavírus fortaleceu a confiança estabelecida com os pacientes e familiares para 16% dos consultados, e tornou os pacientes mais receptivos às recomendações médicas (12,6%). Cerca de 13,7% dos respondentes afirmaram que o estresse gerado pela pandemia no paciente tornou tenso seu comportamento nas consultas.

Estresse também atinge profissionais da enfermagem

Da mesma forma que os médicos, os demais profissionais da área da saúde estão sendo atingidos por estes “danos colaterais”. De acordo com Juliano Lançana, Coordenador de Enfermagem do Pronto Atendimento de Penha, a enfermagem tem papel fundamental na detecção, avaliação e tratamento dos casos de COVID-19. Os profissionais enfrentam longas jornadas de trabalho e arriscam a própria vida.

“Estudos realizados junto a profissionais de saúde em diversos momentos de epidemias têm demonstrado a prevalência de insônia, ansiedade, depressão, somatização e sintomas obsessivos compulsivos, bem como evidenciaram um maior risco de desenvolverem sintomas de Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT)”, declarou Juliano.

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