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Homem, você sabia que a fragilidade é uma condição humana? 

Conforme o Ministério da Saúde (2022), os homens, sofrendo impactos devido as condições de gênero, morrem mais que as mulheres na maioria das causas de óbito em todas as faixas etárias de até 80 anos de idade


4 de novembro de 2022 por
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Psicóloga Bianca B. Pan Lopez, graduanda em Psicanálise.  

CRP 12/22421 

Uma planta tem o potencial para crescer e tornar-se bela, rica e admirável, mas, para este feito, ela dependerá de uma série de fatores, como a temperatura, do sol e da chuva, do tipo de solo, se será acometida por alguma doença ou devorada por um animal. De igual modo se assemelha a condição humana, uma pessoa pode se tornar alguém excelente em suas qualidades e realizações, entretanto, algumas circunstâncias trazem implicações, portanto, questiona-se até mesmo o mérito das conquistas humanas, pois, a metáfora entre planta e ser humano nos apontam algo comum: nossa fragilidade enquanto condição humana.  

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Nós, humanidade, estamos passíveis de sermos acometidos por doenças e adoecimentos físicos e psicológicos, de vivenciarmos o fracasso, as frustrações, sujeitos às catástrofes naturais, entre outras adversidades as quais não controlamos. Logo, inegável se torna nossa condição de fragilidade. No entanto, à vista dessa ciência, diversos são os recursos cada vez mais aprimorados e tecnológicos para aparar, na medida do possível, nossas fragilidades, de maneira a prolongarmos e termos maior qualidade de vida. 

Sabendo disso, você já parou para pensar em como muitos homens negligenciam a própria saúde? Bem, variadas pesquisas mostram primordialmente o desencontro do gênero masculino em suas implicações com o autocuidado e as fragilidades que podem ser prevenidas ou tratadas, seja no tocante físico ou psicológico. Posto isto, te convido a refletirmos um pouco sobre a construção da masculinidade e suas consequências negativas frente a fragilidade humana. Vamos juntos?  

Primeiro, resumidamente, vamos tirar algumas possíveis dúvidas. O sexo feminino ou masculino corresponde unicamente as características fisiológicas, como os fatores genéticos, hormonais e anatômicos da pessoa. O gênero se refere as funções e atributos social e culturalmente construídos, como vestimentas, comportamentos, posturas, ações, falas, etc. Já a identidade de gênero é uma construção individual correlacionada ao corpo social, partindo dos aspectos subjetivos da pessoa e sua identificação. 

O gênero masculino é, por diversas vezes, representado como o líder da casa e provedor, designado ao trabalho e ao desenvolvimento econômico e social, racional e protetor. A respeito de seu corpo, recaem o imaginário social de um corpo forte, viril, resistente e estável. Ao passo de que o papel do homem é de prover o sustento e proteger a casa e a família, atrela-se a mulher a sensibilidade, o emocional e o papel de cuidado de si, da casa, dos filhos, do marido e de outros. Assim, podemos perceber que as questões de gênero implicam em como as pessoas, a partir das suas identificações, percebem a si mesmas e aos outros. 

Quando irrefletidos os atributos e papeis de gênero, a fantasia e o imaginário podem sobressair a realidade, negando-a, pois, como já colocado, a fragilidade faz parte da existência, o papel de cuidado de si e do outro precisa ser um dever individual e coletivo de todos, bem como a racionalidade e a emoção são presentes em todos e todas que tem suas plenas faculdades mentais em funcionamento.  

Conforme o Ministério da Saúde (2022), os homens, sofrendo impactos devido as condições de gênero, morrem mais que as mulheres na maioria das causas de óbito em todas as faixas etárias de até 80 anos de idade, incluindo maior tendência de mortalidade precoce (até 60 anos), principalmente com Doenças Crônicas Não-Transmissíveis (DCNT). O sentimento de invulnerabilidade e o afastamento do autocuidado são capazes de aumentar as DCNT, dependências químicas e outros comportamentos de risco prejudiciais à saúde, como dietas ricas em gorduras e consumo de bebidas alcoólicas e/ou tabaco. A maior prevalência das morbimortalidades por DCNT está ligada ao menor uso dos serviços públicos, sendo pontuados na pesquisa de Costa-Júnior, Almeida e Correr (2019) que os homens são quem menos tem buscado atendimento médico e psicológico, sendo baixíssimo o número de procura de homens para exames preventivos, em que a busca da ajuda ocorre somente quando os sintomas do adoecimento já estão aparentes e incomodam, sendo o número de maiores internações sensíveis na Atenção Primária efetuadas em homens, comprovando a buscas destes em situações de extrema emergência ou urgência. Bem como, o número de suicídios tem sido quatro vezes maior entre homens comparado as mulheres.   

Contudo, é possível concluir, que quando a masculinidade não é refletida e ressignificada, apresentam desvantagens, sendo o exercício da masculinidade um fator de risco para a saúde. Cabe destacar que a ausência de incentivo das áreas da saúde em relação à saúde do homem tem a responsabilidade e influência na intensificação do número baixo de homens na procura por atendimento médico e psicológico, devido a isso, atualmente tem se buscado novas estratégias para reparar esta desatenção. Então, homem, te convido para que você não deixe de se responsabilizar por você mesmo por causa de imposições e fatores sociais, seja você alguém protagonista de sua própria vida, implicado no seu próprio autocuidado.  

Referência Bibliográfica:  

BRASIL. Ministério da Saúde. Gabinete do Ministro. Dados Apontam Maior Risco de Mortalidade Por Doenças Crônicas Na População Masculina. Brasília, 2022. 

DA COSTA-JÚNIOR, Florêncio Mariano; ALMEIDA, Bettina dos Santos; CORRER, Rinaldo. Concepções sobre gênero e formação no campo da psicologia da saúde. Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, p. 1441-1464, 2019. 

DE CAMPOS, Dorielzamo Monteiro. Saúde Mental: Questões de gênero e terceira idade. 2019. 

DE SOUSA, Cid Vale. A fragilidade humana e a questão da linguagem. Revista Hypnos, n. 7, 2001. 

TRAVASSOS, Gabriel Saad et al. A Opinião Consultiva n°. 24/2017 da Corte Interamericana de Direitos Humanos:: a identidade de gênero como núcleo componente da dignidade da pessoa humana. Revista da Defensoria Pública da União, n. 11, p. 65-88, 2018. 

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